Putin se recusa a extraditar suspeito no Caso Litvinenko
Impasse diplomático depois que a Promotoria da Coroa decidiu que empresário deve responder à acusação
Ian Cobain, Luke Harding, em Moscou e Will Woodward
As relações entre Londres e Moscou caíram a seu nível mais baixo em quase 20 anos, ontem, depois que a Rússia se recusou a entregar um empresário acusado de envenenar o ex-agente da KGB, Alexander Litvinenko.
O Serviço da Promotoria da Coroa disse que a polícia tinha reunido evidências suficientes para justificar a acusação contra Andrei Lugovoi por assassinato e exigir a sua extradição para ser julgado por um crime "extraordinariamente grave". Um porta-voz de Tony Blair disse: "Assassinato é assassinato: isto é um caso muito sério."
Mas em uma resposta rápida, a Rússia disse que não havia nenhuma possibilidade de Lugovoi ser enviado para um julgamento na Grã-Bretanha, e advertiu de uma reação política. Marina Gridneva, porta-voz da Procuradoria Geral Russa, disse: "Sob a lei russa, um cidadão russo não pode ser entregue a países estrangeiros."
Lugovoi falou à TV estatal russa e ao noticiário do Canal 4 ontem, reiterando que ele não teve nada a ver com morte de Litvinenko. "Posso dizer que estou absolutamente tranqüilo, assim como, sou totalmente inocente", disse ao Canal 4. “Eu tenho certeza que não matei Litvinenko. Além do mais, estou plenamente e profundamente convencido que a justiça britânica não tem nenhuma evidência. Eu também não entendo como eles podem alegar que eu teria motivos, e se não há nenhum motivo, é difícil de se imaginar que tenham um caso." Disse que a decisão de acusá-lo era "política".
O Kremlin também refutou as repetidas afirmações de amigos de Litvinenko sobre quem estaria por trás do seu assassinato.
Mas a Segurança Britânica e as agentes de inteligência acreditam que antigos, e talvez atuais, agentes do estado russo estejam por trás do assassinato. Eles disseram que só uma instituição de estado pode produzir Polônio-210, o produto refinado, altamente radioativo, usado para envenenar Litvinenko.
A decisão de pedir a extradição de Lugovoi foi prognosticada pelo The Guardian,em janeiro. Desde então, existem diversas discussões sobre mudanças no comitê britânico Cobra, convocado só em casos de emergência, constituído por membros do governo e líderes dos serviços de segurança da Grã-Bretanha.
Peter Ricketts, secretário permanente do Ministério das Relações Exteriores, chamou o embaixador russo, Yuri Fedotov, para uma reunião ontem pela manhã. Margaret Beckett, Ministra das Relações Exteriores, disse mais tarde: "Este foi um crime grave. Nós estamos investigando e esperamos plena cooperação das autoridades russas para que o responsável possa ser julgado pela justiça britânica. Estes pontos foram firmemente colocados ao embaixador russo quando este foi chamado ao Ministério das Relações Exteriores."
O Ministério das Relações Exteriores acredita que pode continuar a cooperar com a Rússia em outras questões. "Trabalhamos próximos a eles em ações internacionais, como no Iraque e em mudanças climáticas", disse uma porta-voz. Mas neste "crime sério... nós esperamos a cooperação da Rússia", disse.
O pedido de extradição está para ser enviado a Moscou nos próximos dias.
Então Downing Street deu sua resposta formal - e ontem a Procuradoria russa não fez comentários – isto é o que importa. A Rússia assinou a Convenção Européia sobre extradição em 2001. "Sendo a Rússia ou outro país há certas obrigações legais para as nações", disse o porta-voz oficial de Tony Blair. "Vamos ver qual é a resposta legal."
A acusação de assassinato veio em um momento em que as relações entre a Grã-Bretanha e a Rússia estão desgastadas. Num discurso no ano passado, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin expôs suas metas de política externa e pediu um fortalecimento das relações com os "principais" países da Europa, a Itália, a França, a Alemanha e a Espanha. A Grã-Bretanha não foi mencionada. Alguns meses antes, o FSB, Serviço de Federal de Segurança, acusou quatro diplomatas britânicos de espionagem.
O Kremlin também está zangado com o fato de a Inglaterra ter dado refúgio a Boris Berezovsky, uma pessoa influente dentro do Kremlin na gestão do ex-presidente Boris Yeltsin, e que se desligou do governo com a ascensão de Putin, fugindo para a Grã-Bretanha em 2000. No mês passado, Berezovsky disse numa entrevista ao The Guardian que ele estava engendrando um golpe para derrubar Putin, provocando o Kremlin a reiterar suas tentativas de extraditá-lo para Moscou.
Gleb Pavlovsky, um consultor de Putin, disse: "'Uma situação em que a Grã-Bretanha não nos entrega Berezovsky, mas pede que pessoas ligadas a Berezovsky sejam entregues, definitivamente não despertará entusiasmo em Moscou. Se esta história prosseguir irá prejudicar seriamente a postura da elite russa com relação à Inglaterra e a Londres. Londres está tentando criminalizar a imagem da Rússia".
Outros analistas advertiram sobre uma possível reação na Rússia contra o Reino Unido. Boris Makargenko, diretor do Centro de Política e Tecnologia de Moscou, disse: “Eu espero que não haja uma histeria anti-britânica, mas tenho certeza de que algumas pessoas irão dizer que os bretões estão conspirando contra a Rússia. É inevitável, a Rússia não vai extraditar Lugovoi.”
Litvinenko, 43 anos de idade, era um refugiado político que tinha conseguido cidadania britânica, tratava-se de um crítico do Kremlin, o qual ele acusou de estar por trás da onda mortal de bombardeios aos apartamentos periféricos, há oito anos, que adicionou combustível para um renovado apoio ofensivo contra os separatistas chechenos.
Ele foi envenenado durante uma reunião em um bar do Hotel Millennium, em Mayfair, no dia 1º de novembro, morrendo 22 dias depois. Horas antes de morrer, cientistas que trabalhavam ao lado de detetives da Scotland Yard descobriram que ele tinha ingerido uma imensa dose de Polônio-210, um raro isótopo radioativo.
Uma substância inodora e incolor, que não pode ser detectada por scanners de radiação nos aeroportos, o Polônio-210 foi aparentemente escolhido como a arma mortal porque as possibilidades de sua detecção eram muito pequenas, mas, uma vez descoberto na urina de Litvinenko, a Scotland Yard estava apta a mapear um quadro detalhado de cada passo que o assassino tomou antes e depois do assassinato.
Isto levou a Promotoria da Coroa (CPS) a concluir que havia evidências suficientes para acusar Lugovoi de assassinato. Ken Macdonald, diretor da CPS, disse ontem: "Eu concluí hoje que as evidências enviadas para nós pela polícia são suficientes para acusar Andrei Lugovoi pelo assassinato de Litvinenko por envenenamento intencional...
Instruí os advogados da CPS a tomar medidas imediatas para pedir a pronta extradição de Andrei Lugovoi da Rússia para o Reino Unido, de modo que possa ser acusado de assassinato, e seja rapidamente trazido a um Tribunal em Londres".
O Serviço da Promotoria da Coroa disse que a polícia tinha reunido evidências suficientes para justificar a acusação contra Andrei Lugovoi por assassinato e exigir a sua extradição para ser julgado por um crime "extraordinariamente grave". Um porta-voz de Tony Blair disse: "Assassinato é assassinato: isto é um caso muito sério."
Mas em uma resposta rápida, a Rússia disse que não havia nenhuma possibilidade de Lugovoi ser enviado para um julgamento na Grã-Bretanha, e advertiu de uma reação política. Marina Gridneva, porta-voz da Procuradoria Geral Russa, disse: "Sob a lei russa, um cidadão russo não pode ser entregue a países estrangeiros."
Lugovoi falou à TV estatal russa e ao noticiário do Canal 4 ontem, reiterando que ele não teve nada a ver com morte de Litvinenko. "Posso dizer que estou absolutamente tranqüilo, assim como, sou totalmente inocente", disse ao Canal 4. “Eu tenho certeza que não matei Litvinenko. Além do mais, estou plenamente e profundamente convencido que a justiça britânica não tem nenhuma evidência. Eu também não entendo como eles podem alegar que eu teria motivos, e se não há nenhum motivo, é difícil de se imaginar que tenham um caso." Disse que a decisão de acusá-lo era "política".
O Kremlin também refutou as repetidas afirmações de amigos de Litvinenko sobre quem estaria por trás do seu assassinato.
Mas a Segurança Britânica e as agentes de inteligência acreditam que antigos, e talvez atuais, agentes do estado russo estejam por trás do assassinato. Eles disseram que só uma instituição de estado pode produzir Polônio-210, o produto refinado, altamente radioativo, usado para envenenar Litvinenko.
A decisão de pedir a extradição de Lugovoi foi prognosticada pelo The Guardian,em janeiro. Desde então, existem diversas discussões sobre mudanças no comitê britânico Cobra, convocado só em casos de emergência, constituído por membros do governo e líderes dos serviços de segurança da Grã-Bretanha.
Peter Ricketts, secretário permanente do Ministério das Relações Exteriores, chamou o embaixador russo, Yuri Fedotov, para uma reunião ontem pela manhã. Margaret Beckett, Ministra das Relações Exteriores, disse mais tarde: "Este foi um crime grave. Nós estamos investigando e esperamos plena cooperação das autoridades russas para que o responsável possa ser julgado pela justiça britânica. Estes pontos foram firmemente colocados ao embaixador russo quando este foi chamado ao Ministério das Relações Exteriores."
O Ministério das Relações Exteriores acredita que pode continuar a cooperar com a Rússia em outras questões. "Trabalhamos próximos a eles em ações internacionais, como no Iraque e em mudanças climáticas", disse uma porta-voz. Mas neste "crime sério... nós esperamos a cooperação da Rússia", disse.
O pedido de extradição está para ser enviado a Moscou nos próximos dias.
Então Downing Street deu sua resposta formal - e ontem a Procuradoria russa não fez comentários – isto é o que importa. A Rússia assinou a Convenção Européia sobre extradição em 2001. "Sendo a Rússia ou outro país há certas obrigações legais para as nações", disse o porta-voz oficial de Tony Blair. "Vamos ver qual é a resposta legal."
A acusação de assassinato veio em um momento em que as relações entre a Grã-Bretanha e a Rússia estão desgastadas. Num discurso no ano passado, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin expôs suas metas de política externa e pediu um fortalecimento das relações com os "principais" países da Europa, a Itália, a França, a Alemanha e a Espanha. A Grã-Bretanha não foi mencionada. Alguns meses antes, o FSB, Serviço de Federal de Segurança, acusou quatro diplomatas britânicos de espionagem.
O Kremlin também está zangado com o fato de a Inglaterra ter dado refúgio a Boris Berezovsky, uma pessoa influente dentro do Kremlin na gestão do ex-presidente Boris Yeltsin, e que se desligou do governo com a ascensão de Putin, fugindo para a Grã-Bretanha em 2000. No mês passado, Berezovsky disse numa entrevista ao The Guardian que ele estava engendrando um golpe para derrubar Putin, provocando o Kremlin a reiterar suas tentativas de extraditá-lo para Moscou.
Gleb Pavlovsky, um consultor de Putin, disse: "'Uma situação em que a Grã-Bretanha não nos entrega Berezovsky, mas pede que pessoas ligadas a Berezovsky sejam entregues, definitivamente não despertará entusiasmo em Moscou. Se esta história prosseguir irá prejudicar seriamente a postura da elite russa com relação à Inglaterra e a Londres. Londres está tentando criminalizar a imagem da Rússia".
Outros analistas advertiram sobre uma possível reação na Rússia contra o Reino Unido. Boris Makargenko, diretor do Centro de Política e Tecnologia de Moscou, disse: “Eu espero que não haja uma histeria anti-britânica, mas tenho certeza de que algumas pessoas irão dizer que os bretões estão conspirando contra a Rússia. É inevitável, a Rússia não vai extraditar Lugovoi.”
Litvinenko, 43 anos de idade, era um refugiado político que tinha conseguido cidadania britânica, tratava-se de um crítico do Kremlin, o qual ele acusou de estar por trás da onda mortal de bombardeios aos apartamentos periféricos, há oito anos, que adicionou combustível para um renovado apoio ofensivo contra os separatistas chechenos.
Ele foi envenenado durante uma reunião em um bar do Hotel Millennium, em Mayfair, no dia 1º de novembro, morrendo 22 dias depois. Horas antes de morrer, cientistas que trabalhavam ao lado de detetives da Scotland Yard descobriram que ele tinha ingerido uma imensa dose de Polônio-210, um raro isótopo radioativo.
Uma substância inodora e incolor, que não pode ser detectada por scanners de radiação nos aeroportos, o Polônio-210 foi aparentemente escolhido como a arma mortal porque as possibilidades de sua detecção eram muito pequenas, mas, uma vez descoberto na urina de Litvinenko, a Scotland Yard estava apta a mapear um quadro detalhado de cada passo que o assassino tomou antes e depois do assassinato.
Isto levou a Promotoria da Coroa (CPS) a concluir que havia evidências suficientes para acusar Lugovoi de assassinato. Ken Macdonald, diretor da CPS, disse ontem: "Eu concluí hoje que as evidências enviadas para nós pela polícia são suficientes para acusar Andrei Lugovoi pelo assassinato de Litvinenko por envenenamento intencional...
Instruí os advogados da CPS a tomar medidas imediatas para pedir a pronta extradição de Andrei Lugovoi da Rússia para o Reino Unido, de modo que possa ser acusado de assassinato, e seja rapidamente trazido a um Tribunal em Londres".
(The Guardian, http://www.guardian.co.uk/russia/article/0,,2085774,00.html, 23/05/2007)