Sovietic News - Notícias

Noticiário - Antonio Roque Citadini

Friday, December 08, 2006

Por que o russo Berezovski confessou ser o chefe da MSI?

Da Redação Em São Paulo

Depois de quase dois anos de parceria entre Corinthians e MSI, o magnata russo Boris Berezovski revelou nesta sexta-feira que pretende assumir o comando do fundo de investimentos nos próximos dois meses. Segundo entrevista publicada pelo jornal "Folha de S.Paulo", o iraniano Kia Joorabchian não passaria de um gerente.

Para o jornalista Juca Kfouri, colunista do UOL, a manobra sinaliza que Berezovski pode estar usando o Brasil como rota de fuga caso tenha que abandonar a Inglaterra, que firmou recentemente um tratado de extradição com a Rússia.

"Depois de longa e tenebrosa negociação firmou-se um tratado de extradição entre Rússia e Inglaterra. A situação política do gabinete Blair mudou. Um dos grandes protetores do Berezovsky no gabinete Blair caiu fora. Por isso, ele começa a pensar necessariamente em uma rota de fuga, que pode perfeitamente ser o Brasil", comentou Juca em sua "Tabelinha" desta sexta-feira no UOL News.

"Se a rainha da Inglaterra aceitou o Berezovsky, um exilado com bilhões de dólares, o que dirá o governo tupiniquim. E o Corinthians é, digamos, o meio para a aceitação social dele. É o mesmo que os bicheiros fizeram no carnaval do Rio. É o que fez o dono do Chelsea, o Abramovich, é o que está fazendo o Berezovsky, o Corinthians é apenas o meio", completou.

Outro assunto abordado pelo colunista foi a grande atuação de Ronaldinho Gaúcho na última quarta-feira, quando comandou o Barcelona na vitória por 2 a 0 sobre o Werder Bremen, que classificou o time catalão para as oitavas-de-final da Liga dos Campeões da Uefa. O atacante brasileiro fez um gol de falta e iniciou a jogada do segundo, marcado pelo islandês Gudjonsen.

"Por mais que o Dunga tenha suas teorias, por mais que digam que ele deceopcionou na Copa, o fato é que um jogador que faz o que ele fez e, em 18 minutos resolve o jogo como ele resolveu, fazendo o gol de falta e passando aquela boa, você não pode abdicar desse cara em hipótese alguma", afirmou. "Se ele não joga no seu time, o problema é seu. Você não está sendo capaz de resolver como fazer com que ele joga. Porque ninguém joga como ele", concluiu.

Revelado no Grêmio, Ronaldinho Gaúcho deverá ser o grande adversário do Inter na disputa pelo título do Mundial de Clubes da Fifa, que começa neste fim-de-semana, no Japão. "Pode até dar Al Ahly e América na decisão, e os japoneses farão o harakiri se isso acontecer. Mas tudo indica que vamos ter Ronaldinho contra Alexandre Pato, que deve ser titular na equipe colorada", finalizou Juca.

(Juca Kfouri, Tabelinha, http://noticias.uol.com.br/uolnews/juca/2006/12/08/ult3214u17.jhtm, 08/12/2006, 19h08)

Berezovsky vai dar as cartas

Magnata russo decide assumir comando da empresa e, por extensão, futebol do Corinthians

Jamil Chade

O magnata Boris Berezovsky está pronto para assumir publicamente o comando da MSI e, portanto, dos investimentos no Corinthians. Em entrevista por telefone ao Estado, o russo confirmou que está negociando o controle do fundo de investimento já para o início de 2007, voltou a prometer a construção de um estádio e garantiu: 'Kia Joorabchian é apenas um gerente, não controla nada''.

Berezovsky é tido há algum tempo como a pessoa que está por trás da MSI no Brasil, mas evitava assumir esse papel. Porém, o próprio presidente do Corinthians, Alberto Dualib, já havia dito à Polícia Federal que o russo era um dos investidores da empresa. Depois, afirmou que cometera um erro.

Ontem, em Londres, Berezovsky foi ao enterro de Alexander Litvinenko, o ex-espião da KGB envenenado por material radioativo. O magnata era ligado ao ex-espião, que em 1998 denunciou abusos do serviço secreto russo. 'Estou triste com a situação da morte de Litvinenko, mas vamos falar de negócios'', pediu Berezovsky ao Estado após o funeral, referindo-se a seus planos para o Brasil.

Ele admitiu que a dúvida, no momento, é saber como o controle da MSI passaria totalmente para suas mãos. Ele precisa fechar acordo com Badri Patarkatsichivili, da Geórgia, e o israelense Pini Zahavi, os outros investidores da empresa.

Berezovsky entende que, ao assumir de vez a MSI, resolveria alguns problemas, como a desconfiança de que o fundo não passaria de escritório de lavagem de dinheiro. Também amenizaria a pressão da PF brasileira e da Fifa para saber quem de fato comanda o Corinthians. Além disso, acabaria com a disputa entre Dualib e Kia que prejudicou a parceria. 'Está na hora de agir. Não quero mais perder tempo. Se me apresento como investidor, é para ganhar. Nunca entro em um negócio para perder'', afirmou. Berezovsky mostrou-se contundente ao falar sobre o papel de Kia. 'É apenas gerente. Não controla nada. Eu lido diretamente com investidores.''

Um de seus planos é a construção de um estádio para o Corinthians e que poderia ser usado para a Copa do Mundo de 2014, caso o Brasil seja escolhido como sede. 'Já falamos disso por muito tempo e está na hora de colocarmos os planos em prática'', observou. 'Precisamos acelerar esse assunto. Acho que o estádio não vai custar menos do que US$ 50 milhões.''

O plano do magnata inclui comprar jogadores e tentar quitar a dívida do Corinthians, que gira em torno de US$ 10 milhões. Ainda não há definição sobre reforços para 2007. 'Quero que o Corinthians volte a ser ganhador. Vamos assumir primeiro e depois faremos essas opções de jogadores.'' Mesmo assim, o clube anunciou contratações (veja nota ao lado).

INVESTIMENTOS

Berezovsky deixou claro que o Corinthians é parte de sua estratégia no Brasil. 'O País tem grande potencial e estive reunido com várias autoridades. Quero investir na área de energia, mercado imobiliário e em infra-estrutura.'' O russo interessou-se pela Varig há alguns meses, mas nunca fez proposta.

Em maio, quando esteve no Brasil, foi interrogado pela PF. 'Claro que não gostei, mas acho que fiz nada contra as leis brasileiras'', disse.

(O Estado de S. Paulo, Esportes, 08/12/2006)

Berezovsky vai dar as cartas

Magnata russo decide assumir comando da empresa e, por extensão, futebol do Corinthians

Jamil Chade

O magnata Boris Berezovsky está pronto para assumir publicamente o comando da MSI e, portanto, dos investimentos no Corinthians. Em entrevista por telefone ao Estado, o russo confirmou que está negociando o controle do fundo de investimento já para o início de 2007, voltou a prometer a construção de um estádio e garantiu: 'Kia Joorabchian é apenas um gerente, não controla nada''.

Berezovsky é tido há algum tempo como a pessoa que está por trás da MSI no Brasil, mas evitava assumir esse papel. Porém, o próprio presidente do Corinthians, Alberto Dualib, já havia dito à Polícia Federal que o russo era um dos investidores da empresa. Depois, afirmou que cometera um erro.

Ontem, em Londres, Berezovsky foi ao enterro de Alexander Litvinenko, o ex-espião da KGB envenenado por material radioativo. O magnata era ligado ao ex-espião, que em 1998 denunciou abusos do serviço secreto russo. 'Estou triste com a situação da morte de Litvinenko, mas vamos falar de negócios'', pediu Berezovsky ao Estado após o funeral, referindo-se a seus planos para o Brasil.

Ele admitiu que a dúvida, no momento, é saber como o controle da MSI passaria totalmente para suas mãos. Ele precisa fechar acordo com Badri Patarkatsichivili, da Geórgia, e o israelense Pini Zahavi, os outros investidores da empresa.

Berezovsky entende que, ao assumir de vez a MSI, resolveria alguns problemas, como a desconfiança de que o fundo não passaria de escritório de lavagem de dinheiro. Também amenizaria a pressão da PF brasileira e da Fifa para saber quem de fato comanda o Corinthians. Além disso, acabaria com a disputa entre Dualib e Kia que prejudicou a parceria. 'Está na hora de agir. Não quero mais perder tempo. Se me apresento como investidor, é para ganhar. Nunca entro em um negócio para perder'', afirmou. Berezovsky mostrou-se contundente ao falar sobre o papel de Kia. 'É apenas gerente. Não controla nada. Eu lido diretamente com investidores.''

Um de seus planos é a construção de um estádio para o Corinthians e que poderia ser usado para a Copa do Mundo de 2014, caso o Brasil seja escolhido como sede. 'Já falamos disso por muito tempo e está na hora de colocarmos os planos em prática'', observou. 'Precisamos acelerar esse assunto. Acho que o estádio não vai custar menos do que US$ 50 milhões.''

O plano do magnata inclui comprar jogadores e tentar quitar a dívida do Corinthians, que gira em torno de US$ 10 milhões. Ainda não há definição sobre reforços para 2007. 'Quero que o Corinthians volte a ser ganhador. Vamos assumir primeiro e depois faremos essas opções de jogadores.'' Mesmo assim, o clube anunciou contratações (veja nota ao lado).

INVESTIMENTOS

Berezovsky deixou claro que o Corinthians é parte de sua estratégia no Brasil. 'O País tem grande potencial e estive reunido com várias autoridades. Quero investir na área de energia, mercado imobiliário e em infra-estrutura.'' O russo interessou-se pela Varig há alguns meses, mas nunca fez proposta.

Em maio, quando esteve no Brasil, foi interrogado pela PF. 'Claro que não gostei, mas acho que fiz nada contra as leis brasileiras'', disse.

(O Estado de S. Paulo, Esportes, 08/12/2006)

Novo preço

O Corinthians quer que Boris Berezovski invista no clube US$ 20 milhões, sem incluir contratações. Mas se contenta com a metade desse valor. Pelas contas atualizadas, são necessários US$ 10 milhões para cobrir as dívidas, isso depois de a MSI já ter tapado um rombo de cerca de US$ 20 milhões. Os cartolas também oferecerão ao empresário três planos de contratação: A, B e C. O primeiro com medalhões, e o último apostando só em jovens promessas, pouco diferente do que está em prática. O segundo mescla os dois.

Ricardo Perrone

(Folha de S. Paulo, Folha Esporte, Painel FC, 08/12/2006)

Corintiano, Berezovski diz que Kia é só "gerente"

poderoso chefão

Magnata russo estuda negócio e já faz planos para levar Corinthians ao topo

Fã de Tevez e Lula, ele quer construir estádio, investir em outras áreas no Brasil e diz não temer investigação da Polícia Federal sobre MSI

RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

Como já aconteceu com Kia Joorabchian, o russo Boris Berezovski disse ontem que quer "levar o Corinthians ao topo". Em entrevista por telefone, de Londres, o polêmico empresário confirmou o interesse em investir na MSI e no Corinthians, como revelou a Folha. Berezovski não deu bola para a negativa de Kia à venda da empresa. "Ele é só o gerente." Acusado em seu país de crimes como lavagem de dinheiro, fala não temer a investigação das autoridades do Brasil, onde afirma já ter estado duas vezes. Uma das visitas havia sido negada pelos cartolas. Revela ainda torcer pelo clube.


FOLHA - É verdade que o senhor quer investir no Corinthians?
BORIS BEREZOVSKI - Sim. Quero investir no Corinthians e na MSI. Agora vou estudar a melhor forma de fazer isso. Quero colocar o Corinthians no topo. Vou contratar, vou investir no time, mas também quero construir um estádio.

FOLHA - Quanto tempo o senhor precisa para tomar uma decisão?
BEREZOVSKI - Preciso de uns dois ou três meses.

FOLHA - O Kia afirma que não está vendendo a MSI. O senhor vai conversar com ele?
BEREZOVSKI - O Kia não é investidor, ele é gerente. Vou conversar com os investidores. Como você sabe, fui eu quem ajudou o Kia a conseguir os investidores, então conheço todos.

FOLHA - Se der certo, quanto o senhor vai investir em contratações?
BEREZOVSKI - Quanto for necessário para colocar o Corinthians no topo. Mas ainda é cedo para falar em quantidade e também em nomes.

FOLHA - Qual é o melhor jogador do mundo na sua opinião?
BEREZOVSKI - Não sei quem é o melhor do mundo, mas meu favorito é o Tevez.

FOLHA - Então, ele pode voltar?
BEREZOVSKI - Só sei que ele saiu. Torço para o Corinthians, mas não tenho idéia de quem são os jogadores do time hoje. E é cedo para saber quem jogará lá.

FOLHA - O senhor não conhece os jogadores, mas torce pelo time?
BEREZOVSKI - Torço porque o Kia me ensinou a gostar do Corinthians. Sou um fã do time.

FOLHA - Por que o senhor mudou de idéia sobre investir no Corinthians? Antes, queria apenas construir um estádio.
BEREZOVSKI - Não diria que mudei de idéia. É que antes eu não conhecia o país direito, o potencial do Brasil. E também só agora conheço mais os detalhes sobre a parceria.

FOLHA - O senhor está interessado em outros negócios no Brasil?
BEREZOVSKI - Sim. Estive duas vezes no Brasil. O país tem bom potencial para negócios.

FOLHA - Quais negócios?
BEREZOVSKI - Bom, acho que o Lula está desenvolvendo bem o país, foi importante ele se reeleger. Então, são várias áreas crescendo. Posso investir, por exemplo em energia e infra-estrutura. O Lula criou boas condições para isso.

FOLHA - Quando esteve no Brasil, o senhor se encontrou com pessoas próximas ao presidente?
BEREZOVSKI - A minha conexão mais próxima ao Lula é o [intermediário da MSI, Renato] Duprat. Ele é próximo ao Lula?

FOLHA - Ele diz que não. A polícia do Brasil investiga a parceria e o senhor. Está preocupado com isso?
BEREZOVSKI - Não. Na última vez em que estive no Brasil, prestei depoimento. Eles fizeram muitas perguntas, não deixei nenhuma sem resposta. Não acharam nada de errado, não têm nada contra mim.

FOLHA - Quando o senhor irá voltar ao Brasil?
BEREZOVSKI - Em alguns meses. Primeiro, vou definir com o Corinthians. Depois, devo voltar para estudar outros negócios.

(Folha de S. Paulo, Folha Esporte, 08/12/2006)

Thursday, December 07, 2006

Difícil inquérito para Scotland Yard em Moscou

As investigações sobre o assassinato com substância radioativa de Alexandre Litvinenko passam pela capital russa, mas as autoridades impõem dificuldades

Marie Jégo
correspondente em Moscou

Mal eles chegaram a Moscou, os novos inspetores da Scotland Yard vindos para investigar o envenenamento mortal em Londres do ex-agente russo Alexandre Litvinenko, tiveram de se render às evidências: a sua margem de manobra será limitada.

Não há certeza alguma de que eles possam se encontrar com uma das principais testemunhas, Andrei Lougovoi, um ex-membro dos serviços de inteligência (FSB, ex-KGB), que viajou para Londres três vezes sucessivas, entre o dia 16 de outubro e 3 de novembro, e que esteve reunido com a vítima em quatro oportunidades.

Nos aviões em que este homem viajou, principalmente num vôo Moscou-Londres de 25 de outubro, a polícia britânica encontrou traços de polônio 210, o isótopo radioativo que foi detectado em grande quantidade no corpo de Alexandre Litvinenko (cem vezes superior à dose mortal).

Vestígios de polônio também foram encontrados na terça-feira, 5 de dezembro, no estádio Emirates Stadium de Londres onde Andrei Lougovoi e os seus dois parceiros, Dmitri Kovtoun e Alexandre Sokolenko, haviam assistido a uma partida de futebol (Arsenal-CSKA Moscou), em 1º de novembro. Os três homens estiveram reunidos com Alexandre Litvinenko pouco antes de este sentir os primeiros sintomas do envenenamento.

"Opositores que devem ser eliminados"

Andrei Lougovoï, que está sendo submetido nesse momento a testes no hospital, se disse disposto "a responder a todas as perguntas que interessarem a Scotland Yard", segundo informou a agência Itar-Tass. Mas, conforme explicou o procurador-geral da Rússia, Iuri Tchaika, são os médicos que decidirão sobre a viabilidade deste interrogatório.

Durante uma coletiva de imprensa em Moscou, na terça-feira (5), o procurador-geral lembrou os limites do inquérito. Conformemente às práticas do direito internacional, as autoridades russas irão cooperar com a Scotland Yard, mas elas manterão o controle sobre as investigações e não extraditarão nenhum suspeito para a Grã-Bretanha.

O interrogatório de uma outra testemunha, Mikhail Trepachkin, que queria ser ouvido, não poderá ser realizado. Este antigo agente do FSB cumpre atualmente uma pena de prisão num campo do Oural. Por intermédio dos seus advogados, Mikhail Trepachkin informou ter avisado Alexandre Litvinenko, quatro anos atrás, de que o seu nome constava de uma lista de opositores que deveriam ser eliminados.

"Os serviços penitenciários russos não permitirão que nenhum condenado por divulgação de segredos de Estado continue sendo uma fonte de informação para os representantes de serviços especiais estrangeiros", replicou na terça-feira o porta-voz da administração penitenciária, Alexandre Sidorov.

Um antigo investigador do FSB, Mikhail Trepachkin tornou-se advogado no final dos anos 90. Os seus problemas começaram no dia em que ele decidiu defender Aliona Morozova, uma jovem mulher cuja mãe e o namorado morreram na explosão de origem criminosa que, em setembro de 1999, destruiu um prédio, na Rua Gourianova em Moscou. Aliona Morozova, que obteve o asilo político nos Estados Unidos em 2005, está convencida do envolvimento do FSB na explosão.

Mikhail Trepachkin, que também defende esta tese, foi preso em 2003. Após ter sido liberado em seguida, ele voltou a ser preso alguns meses mais tarde. Julgado por ocasião de um processo de portas fechadas em maio de 2004, ele foi condenado a quatro anos de prisão.

Tradução: Jean-Yves de Neufville

Visite o site do Le Monde: http://www.lemonde.fr/

(UOL, Mídia Global, http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2006/12/07/ult580u2264.jhtm, 07/12/2006)

Berezovski quer MSI, diz Corinthians

- tá russo

Foragido de seu país, magnata pode controlar futebol; intermediário que apresentou fundo ao clube festeja negociação

Segundo Renato Duprat, polêmico investidor quer total controle da empresa, mas não definiu prazo para a operação, negada por Kia

RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL


Da noite para o dia, o magnata russo Boris Berezovski saiu da sombra e está disposto a assumir o controle da MSI. Ou seja, do futebol corintiano. É o que disse ontem, por telefone, Renato Duprat, que está em Londres, representando o Corinthians, justamente para tentar evitar o fim da parceria com a empresa de Kia Joorabchian.
Segundo Duprat, que faz a ligação entre o clube e os investidores, o russo, foragido em seu país e que hoje vive na Inglaterra, estuda comprar a MSI.
O brasileiro, que intermediou a parceria, procurou Berezovski a fim de pedir a indicação de um possível novo investidor. Foi o russo quem o apresentou ao iraniano em 2004.
"Tive uma reunião com o professor Boris, e apresentei a ele um plano de negócios. Ele me disse que está disposto a assumir o controle das operações da MSI. Vai analisar melhor os números, e voltaremos a conversar", afirmou Duprat.
A firma de Kia nega a negociação. "A MSI não está à venda e jamais teve conhecimento de qualquer intenção do empresário Boris Berezovski nesse sentido, seja formal ou informalmente", informou a empresa, por meio de sua assessoria.
Duprat declarou que Berezovski negociará a compra da MSI com investidores, e não com Kia, a quem chama de gerente. Porém o iraniano é o presidente da MSI brasileira.
A suposta intenção do russo pode amenizar a pressão que Dualib sofre de seus vices, conselheiros e torcedores, já que todos dão a parceria como terminada e o clube sem verba para montar um time competitivo. O magnata, condenado por lavagem de dinheiro em seu país, daria um novo fôlego para o Corinthians se reforçar.
Por outro lado, sua presença aumentaria a pressão dos opositores e o cerco das autoridades sobre a parceria.
Duprat anuncia o interesse de Berezovski justamente no momento em que o magnata está envolvido em mais um caso nebuloso, a morte de um ex-espião do serviço secreto russo que era seu funcionário.
De acordo com Duprat, Berezovski declarou que só será investidor se tiver o controle da parceria, mas não definiu um prazo para se decidir.
Até agora, o russo só assumia o interesse em construir um estádio no Brasil e investir em outros segmentos no país.
Em maio, esteve no país para discutir a compra da Varig. Entrou após uma consulta ao governo brasileiro. Obteve autorização na condição de exilado político na Inglaterra, apesar de sua prisão ser pedida pelas autoridades russas.
Porém ele acabou interrogado Polícia Federal. Foi parte das investigações da Polícia Federal sobre a suspeita de que a MSI entrou no país para lavar dinheiro, conforme concluiu o Ministério Público Estadual. Os promotores paulistas identificam Berezovski como um dos chefes do negócio. Sua suposta participação é o principal indício do crime de lavagem.
"Se o Boris assumir, não existe mais suspeita de lavagem. Isso só existe porque os investidores não são conhecidos", disse Duprat, que falou que o russo mudou de idéia sobre investir no Corinthians porque agora conhece melhor o projeto.
Apesar de Berezovski sempre ter negado seu envolvimento na parceria, Dualib chegou a dizer à PF que ele era um dos investidores. Pediu depois para seu depoimento ser retificado.

(Folha de S. Paulo, Folha Esporte, 07/12/2006, p. D-1)


QUEM É BORIS BEREZOVSKI?

O magnata russo

IDADE: 60 anos
ORIGEM: Rússia
FORMAÇÃO: Matemática
FORTUNA: US$30 bilhões
COMO ENRIQUECEU: foi beneficiado pela compra, a preços baixos, das estatais da ex-URSS
ONDE ATUA: empresas automobilística, petrolífera, de alumínio, companhias aéreas, rádios e TVs
CRIMES: é acusado de lavagem de dinheiro, de financiar grupos terroristas e de assassinatos
ONDE VIVE: em Londres, onde é asilado político

(Folha de S. Paulo, Folha Esporte, 07/12/2006, p. D-1)


- saiba mais

Ex-conselheiro de magnata foi assassinado

DA REPORTAGEM LOCAL
E DO PAINEL FC


O magnata russo Boris Berezovski vê seu nome envolvido em uma trama de assassinato de um ex-espião do FSB, o Serviço Federal de Segurança da Rússia, seu ex-conselheiro Alexander Litvinenko. Ele foi envenenado na semana passada em Londres, onde vivia, assim como Berezovski, asilado.
Litvinenko denunciou em 1998 uma série de ações ilegais da FSB, então comandado pelo atual presidente russo Vladimir Putin.
À época, disse ter recebido ordem de Putin para assassinar Berezovski, então secretário do Conselho de Segurança e inimigo declarado do hoje presidente russo.
Em 2000, Litvinenko conseguiu fugir para Londres com a família e mantinha estreita relação com Berezovski. Ele não parou de denunciar abusos do regime russo.
Em carta póstuma, Litvinenko, que morreu dias após o envenenamento, acusou o governo russo. A morte dele aumentou a tensão entre Rússia e Inglaterra, que deu asilo a Berezovski.
(EAR E RP)


(Folha de S. Paulo, Folha Esporte, 07/12/2006, p. D-1)

Wednesday, December 06, 2006

Boris Berezovsky e o Efeito Bizarro

Num mundo virado de ponta cabeça, os criminosos são os “bons moços”.

Quando eu expus minha tese pela primeira vez, que nós sofremos do que eu chamo “efeito bizarro”, a inversão dos valores morais assim como das regras lógicas, era apenas hipoteticamente, uma avaliação experimental sobre as conseqüências dos ataques terroristas de 11 de Setembro. Eu não estava absolutamente seguro que a amplitude da força desses aviões batendo no World Trade Center e no Pentagon tinha aberto um buraco na continuidade do espaço-tempo e nos mergulhou no “Mundo Bizarro”, um universo alternativo, onde o mais é menos, o certo é errado, e onde Satã senta-se no trono do céu. Mas as evidências continuam se acumulando, como a extensão externa do Efeito Bizarro, com seu ponto de partida começando na parte baixa de Manhattan e Washington, D.C. Ele é agora um fenômeno mundial e está se espalhando com rapidez. Deixe-nos fazer um tour, então, das áreas de tensão do mundo, onde o Efeito está acelerando de forma jamais vista…

Primeira parada – Londres, local do primeiro ataque terrorista nuclear do mundo, onde um tal Alexander Litvinenko, ex-agente da KGB, foi morto teoricamente numa conspiração, envenenado com Polônio radioativo. No seu leito de morte, Litvinenko culpou o Presidente russo Vladimir Putin e o Serviço de Inteligência Russo, FSB (ex-KGB).

Não importa se isso não faz absolutamente nenhum sentido, que Putin teria que estar louco para mandar ou aprovar um ataque desse tipo, que a Rússia não tinha nada a ganhar com isso, só a perder. Sendo otimista, desconsiderando a total falta de evidências implicando a Rússia, e, por favor, fazendo de tudo para ignorar o caráter sombrio da vítima e de seu patrono, o bilionário oligarca russo, cuja carreira criminosa foi bem documentada pelo recém falecido Paul Klebnikov. (Depois que sua fascinante criação “The Godfather of the Kremlin” (“O Poderoso Chefão do Kremlin”) foi publicada, Klebnikov foi liquidado por assaltantes desconhecidos).

Como Ayn Rand disse uma vez: Não se preocupe em entender a loucura, pergunte a você mesmo somente aonde isso vai levar. A esquisita morte de Litvinenko lançou um maremoto de histeria Russofóbica: reportagens deixam mundo afora praticamente espumando pela boca, exigindo a cabeça de Putin, e os políticos também não estão muito longe disso.


Outro dia a Fox News entrevistou os Senadores Joe Biden e Lindsey Graham, e aqui está o que eles têm a dizer sobre os negócios de Litvinenko:

Pergunta, e eu começarei com você, Senador Biden: Você crê, eu acho que é especulação, mas você acredita que Vladimir Putin, o presidente da Rússia, esteja envolvido? E como nós podemos provar que está ou não, como isso deve afetar nossas relações com a Rússia?”

"BIDEN: Bem, eu não sei se está envolvido, mas nossas relações com a Rússia, para começar, têm que se resolver. A Rússia está se mexendo cada vez mais em direção a uma oligarquia local. Putin está consolidando o poder. Ele está fazendo isto nos últimos seis anos. Nós basicamente estamos dando-lhe adeus. Eu acho que a Rússia está se distanciando da democracia genuína e de um sistema de mercado livre, e indo mais em direção a uma economia autocrática e sob o controle de um único homem. Então eu não sou um grande admirador de Putin, e eu acho que nós devemos fazer politicamente um confronto direto com Putin, sobre a necessidade de que ele mudasse o curso das suas ações.“

"GRAHAM: Eu acho que Joe está certo."

Esta idéia de “eu não sei se ele fez isto, mas...” é o caminho comum na direção desta luta particular de propaganda de guerra, e está em toda parte: leia este comentário de Anne Applebaum e veja se você não chega no mesmo tema de efetiva ambigüidade a despeito da retidão moral.

A primeira metade do seu livro é dedicada a um resumo da complexidade do caso, e ela traçou a melhor linha, até agora, na cobertura dos negócios de Litvinenko: “Embora não saibamos quem matou Litvinenko, nós aprendemos que Londres é um lugar mais exitante do que poderíamos imaginar.” Apesar de reconhecer a falta de evidências conectando Putin e seu governo ao prolongado martírio de Litvinenko, foi confirmado que Putin é culpado independentemente dos fatos ou evidências:

Com o progresso da investigação, eu tenho certeza que muitos outros personagens, maravilhosamente obscuros, vão aparecer junto com muitas teorias sobre quem estava tentando levar quem ao descrédito. Mas, embora existam dúvidas sobre ele realmente ter dado uma ordem a algum autêntico matador, no sentido mais profundo da palavra, Putin é certamente responsável pela morte de Litvinenko: ele dirige esta velha teia de operações de inteligência; de fato, ele está sentado no centro. E aprova seus métodos. Um dos seus primeiros atos como primeiro-ministro em 1999 foi o de desvelar uma placa a Yuri Andropov, o ex-chefe da KGB, mais conhecido por seu tratamento áspero aos dissidentes. No ano passado, russos construíram uma estátua a Andropov. Ninguém devia ter se surpreendido quando o ex-perseguidor dos modernos “dissidentes” da KGB, posteriormente, foi se tornando cada vez mais duro com o passar dos anos, ou que isto tenha culminado neste estranho assassinato.”

Putin é o responsável, ainda que ele não seja. Porque, veja você, ele dirige uma “teia” misteriosa de “operações.” Que prova mais nós necessitamos do que essa placa dedicada a Andropov? Para Anne Applebaums, no mundo de hoje, isso é evidência suficiente. Não há necessidade de se receber algo mais específico que isso: Por favor não nos aborreça com mais nenhum detalhe desagradável. Nós temos uma nova Guerra Fria para vencer …

Isso é o que significa a suposta culpa de Putin "num sentido mais profundo."

Applebaum conta-nos que a trajetória da carreira do “ex-operário” da KGB deu muitas voltas depois da queda da antiga União Soviética. O “mais estúpido”, disse, citando Oleg Gordievsky, um desertor de alto nível da KGB, da era da Guerra Fria, foi escolher entre unir-se à reorganizada FSB ou a algum equivalente estrangeiro, enquanto os outros entravam nos negócios, na política ou uniam-se à Máfia Russa. O que ela não menciona é que pessoas como Litvinenko formaram ainda outra facção: os que se uniram aos oligarcas russos num acordo para tomar o Kremlin depois de serem expulsos por Putin. (Sim, os oligarcas coincidem com a Máfia, mas são diferenciados dela, no sentido de adotarem uma conotação política para suas atividades de “negócios” ilegais).

Há uma razão para que Boris Berezovsky, o bilionário russo que saqueou a economia de seu país durante a era corrupta de Yeltsin, levasse Litvinenko sob a sua asa. Berezovsky é procurado na Rússia, sob acusações de assassinato, extorsão e imenso roubo, e está lutando contra a extradição. Ele também incitou a violenta derrota do governo russo, a qual rendeu a ele uma repreensão de Jack Straw, ex- ministro dos Negócios Estrangeiros britânico. O oligarca russo achou que Litvinenko poderia ser útil, e assim publicou seu livro que culpava Putin por praticamente tudo, incluindo a existência da Al-Qaeda, o massacre de Beslan (supostamente organizado pela KGB), e os bombardeios de cidades russas nos anos 1990 (executados, na verdade, por Chechenos islâmicos).

Se Litvinenko tivesse culpado Putin e a FSB pela queda de natalidade russa, eu não ficaria absolutamente surpreso, e nenhum outro russo ficaria, este é o porquê de sua credibilidade zero na própria terra natal. Ele era uma figura marginal, indigna de um golpe tão espetacular. Tantos salientaram, se os cossacos quisessem realmente matá-lo, por que eles o perturbariam com tamanha agonia e tão exótica morte, gerando enorme comoção pública com Litvinenko, empregada para enegrecer muito o nome de Putin, a ponto de acusarem a Rússia, quando um simples “acidente” de carro ou um encontro fatal com um “assaltante” poderia ter feito o trabalho?

Um pelotão inteiro de ex-agentes da KGB saltou para acusar Putin, incluindo, não somente Gordievsky, mas também Mikhail Trepashkin, que foi preso em 2003 sob acusação de estar “divulgando segredos de Estado” para a Inteligência Britânica e por porte ilegal de arma. Trepashkin agora alega, de sua cela, que ele sabe tudo sobre a morte de Litvinenko e que tem informações vitais para os investigadores. Uma antiga história publicada pelo Moscow News, informa que Trepashkin, Litvinenko e Berezovsky são velhos companheiros:

Num bilhete obtido na prisão pelo The Moscow News, Trepashkin disse que seu caso começou quando o diretório de segurança, uma agência que supervisiona a polícia e as atividades do serviço sercreto, contatou a FSB a respeito de uma suposta reunião entre a Inteligência Britânica, Boris Berezovsky, o magnata exilado do petróleo, e o companheiro Alexander Litvinenko, agente da FSB. De acordo com o bilhete de Trepashkin, Litvinenko teria aparentemente contado sobre uma diligência planejada 'para despisinformação em relação a atividades da FSB e os bombardeios de apartamento em Moscou'. O diretório de segurança informou que foi Trepashkin que reuniu todas as informações.”

Não, Putin não dirige este pequeno grupo de ex-KGBs; Berezovsky é quem faz isso. O próprio magnata russo tem uma conexão com o principal suspeito no caso do assassinato de Litvinenko, o ardiloso Andrei Lugovoi, que era o braço direito do companheiro de Berezovsky, Nikolai Glushkov, fora da cadeia. Glushkov, ex-vice-presidente das linhas aéreas Aeroloft, foi condenado por desviar milhões e esconder o dinheiro numa conta bancária na Suíça, controlada por ninguém menos que nosso velho amigo Berezovsky. O elo comum aqui é o oligarca russo, não o presidente russo.


É interessante como o tempo muda a opinião de alguns. Por que, parece que foi ontem, que o camarada Gordievsky escreveu o seguinte no Telegraph britânico:

Litvinenko deu a entender que tem 'informações' que provam que Vladimir Putin estava por trás das bombas que mataram 300 pessoas em Moscou, há um ano. Essas bombas, foram atribuídas a terroristas chechenos, concedendo a Putin o pretexto que ele necessitava para uma nova ofensiva contra a Chechênia. Isso impulsionou sua vitória na eleição presidencial. Se você fizer a pergunta sobre quem se beneficiou com isso, a resposta é simples: Putin.”

Plantar uma bomba que mata 300 civis meramente para aumentar sua popularidade, seria uma nova marca de crueldade e sangue frio, mesmo pelos padrões impostos pelos antigos líderes da Rússia. Significaria que Putin seria capaz de atrocidades do tipo das de Calígula, o que levantaria muitos questionamentos sobre a sua sanidade mental. Nem mesmo Stalin, ponderadamente, explodiu prédios de apartamentos com seus próprios cidadãos. Putin poderia ter feito isso? Minha convicção é que é muito improvável. Mesmo supondo que o presidente da Rússia não tivesse qualquer escrúpulo moral… ele tem uma certa inteligência. Atualmente, na Rússia, seria impossível manter tal operação em segredo, e Putin saberia disso. Ele é bem capaz de calcular os riscos de exposição garantiriam que a operação seria pior que seus possíveis benefícios.

É mais fácil aceitar a alegação de Litvinenko, do que a KGB ter assassinado inimigos políticos, especialmente como ele disse que era parte do pelotão de ataque. Não obstante, haja alguns elementos estranhos na história. Boris Berezovsky é um alvo muito ímpar. Sim, é rico e tinha feito a maior parte de seus bilhões através de aquisições, legítima ou ilegitimamente, de estatais, para então explorá-los ou vendê-los, com enormes lucros. Sim, o fato de ele ser proprietário de meios de comunicação significa para seus inimigos que ele tem um poder perturbador.

Mesmo na Rússia, no entanto, é difícil entender como algum desses tem uma razão para ver Berezovsky morto. A KGB de Stalin era famosa por assassinar oponentes, com ou sem um simples pretexto. Mas com o tempo eu me uni à KGB, onde esses “serviços sujos” eram muito raros… Seria uma grande inversão de política para a KGB, voltar a assassinar as pessoas do jeito que fazia na Era Stalin. Por outro lado, se as alegações de Litvinenko não forem verdadeiras, é um mistério por que ele devia ter feito. O rumor em Moscou é que ele recebeu um grande suborno de Berezovsky, que simplesmente queria um meio de levar a KGB ao descrédito.”


O relato acima foi publicado em 5 de novembro de 2000. Hoje, no entanto, no mesmo jornal, Gordievsky esqueceu-se de todo seu ceticismo sobre as acusações bizarras de Litvinenko, caiu sua discórdia de que Putin teria que ser louco para executar, no estrangeiro, o assassinato dos seus inimigos políticos, e sustenta sua implicação sobre Berezovsky subornar Litvinenko para afetar Putin:

O presidente russo, Vladimir Putin, pode ordenar o assassinato de todos seus oponentes exilados na Grã-Bretanha, inclusive eu, a menos que Tony Blair e George W. Bush cessem com o tratamento pacífico a esse regime autoritário. Eu não tenho nenhuma dúvida que o homem que tentou matar meu amigo Alexander Litvinenko está em Moscou e andará livremente pelas ruas para contar que o regime atual, que é dominado por ex-membros da KGB, controla o Kremlin.”

Alexander era um crítico ferrenho de Moscou, que freqüentemente falava com linguagem dura, dos abusos do poder do Estado. Suas investigações mais recentes foram guiadas pela sua crença de que Putin tinha ordenado a execução de Anna Politkovskaya, a jornalista que foi baleada na entrada de seu prédio, no mês passado.”

A tentativa de matar Alexander, a quem só no mês passado foi concedida a cidadania britânica, não podia ter sido executada sem a aprovação expressa do presidente.”


Então é assim: o estilo da KGB de “serviços sujos” é uma coisa do passado ou uma característica do futuro? Putin está lúcido ou é louco? Berezovsky ainda é um conspirador, oligarca inescrupuloso, que subornou Litvinenko para usá-lo meio como um fantoche? A única menção de Berezovsky foi no enterro:

Quando falei com Marina, esposa de Alexander, ela estava convencida que a tentativa de assassinato foi executada por um homem, que eu não darei o nome, mas sua identidade é largamente conhecida nos círculos empresariais russos. Este homem foi por algum tempo, um sócio próximo de Boris Berezovsky, o bilionário empresário expulso por Putin, que agora vive no exílo em Surrey. Depois de um período na prisão, o ex-subordinado emergiu como um agente da KGB e tornou-se muito rico.


Por organizar uma reunião com Alexander e administrar uma dose do mortal de veneno Tallium, ele pagou sua dívida para com o Estado. Está agora seguro para a volta à Rússia, e, assim, livre de qualquer tentativa de acusação por suas ações.”

Gordievsky está aqui acusando Lugovoi, e se presume, os outros dois russos que se encontraram com Litvinenko naquele dia fatídico do assassinato, Vyacheslav Sokolenko e Dmitry Kovtun. E a evidência? Quem precisa de evidência? Afinal de contas, de acordo com Gordievsky, “Putin está eliminando seus oponentes com a mesma cruel determinação exibida por Adolf Hitler nos anos 30.” O Putin é Hitler, e Lugovoi é seu agente: caso encerrado.

Mas Lugovoi, de acordo com outro artigo do Telegraph, foi absolvido de todas as acusações e não há nenhuma evidência de que tenha havido algum rompimento com seu velho amigo Berezovsky. Lugovoi teve várias reuniões com Litvinenko durante seu relacionamento de 10 anos, e, embora não fossem amigos íntimos, não eram também inimigos.

Em 2000, Litvinenko foi despedido por Gordievsky, como “meio maluco” e Putin foi retratado por ele como “possuindo certa inteligência” e em plena posse da sua sanidade. Em 2006, o Presidente russo, repentinamente, tornou-se um louco neo-nazista, pronto para matar qualquer um e todo o mundo que encontre em seu caminho, não importa onde eles estejam. Seguramente, as pessoas podem mudar suas mentes, mas esta reviravolta completa requer algo mais de uma explicação que Gordievsky se aborrece em dar.

O que nos traz à questão maior da razão para a corrente campanha anti-Rússia que está sendo empreendida nos (ou, antes, pelos) meios de comunicação ocidentais. A resposta, creio, pode ser encontrada aqui. Também lá e acolá. Putin está executando uma política externa independente, uma que não se adapta aos ditames de Washington, e isto irrita, especialmente quando se trata do Oriente Médio. A ausência de Putin ou de seu apoio à campanha para impor sanções contra o Irã, em particular, incitou os americanos e os britânicos a tirar a forra com o Urso Russo. Subtamente estamos ouvindo um refrão familiar sobre “imperialismo russo”, isto partindo de cidadãos de uma nação que invadiu e ocupou o Iraque, ameaçando exportar sua idéia de “democracia” contra o perigo das armas por todo o globo!

Como eu adverti já há um par de anos, a Russofobia é a última e mais perigosa tendência em Washington, e agora é uma moda bipartidária, como os senadores Biden e Graham demonstraram na Fox News (onde mais?) outro dia.

Sim, Senadores, isto é justamente o que nós precisamos: outra confrontação com um inimigo estrangeiro ainda mais formidável, desta vez uma potência nuclear. E pensar que Biden está caminhando para ser presidente! Ah, mas isto é o que é incrível neste país: mesmo o mentalmente desiquilibrado pode sonhar com a Casa Branca. Que Deus abençoe a América.

Há “zero” de evidência que Putin tenha ordenado a liquidação de Litvinenko, mesmo que nosos principais políticos e sábios estejam todos se colocando para liquidar o Presidente russo e lançando um novo "choque de civilizações entre o mundo eslavo e o ocidental”.

Que fazer quando estão atolados numa guerra impossível de ganhar, rodeados de todos os lados por terroristas, enquanto uma onda de anti-americanismo se alastra pelo mundo? Por que você adiciona os russos à sua lista crescente de inimigos, enquanto incitando mais anti-americanismo, porque é “a coisa certa”, gerar um Mundo Bizarro.

Vivemos num mundo onde os criminosos são bons rapazes, e os patriotas, vilões: onde Berezovsky é um liberal ativista de “direitos humanos” e Putin, um monstro moral. E é essa a razão pela qual chamam isto de Mundo Bizarro...

(AntiWar, http://www.antiwar.com/justin/?articleid=10116, 06/12/2006)