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Noticiário - Antonio Roque Citadini

Wednesday, October 17, 2001

Boris Berezovski e Osama Bin Laden

Como Boris Berezovski financiava a rede de Osama Bin Laden na Chechênia, em relato de um jornalista norte-americano
“O Poderoso Chefão do Kremlin - Boris Berezovski e a pilhagem da Rússia” (“The Godfather of Kremlin”)- por Paul Klebnikov*
por Dimitri de Kochko
PARIS, 17 de Outubro de 2001 – O oligarca Boris Berezovski, homem próximo do antigo presidente Boris Yeltsin e a sua “família”, “desempenharam um papel importante no desenvolvimento da Jihad internacional financiando a rede de Bin Laden na Chechênia até 1999”, acusa um jornalista norte-americano da revista Forbes russa, Paul Klebnikov.O jornalista de origem russa apresentou na terça-feira, 16 de Outubro, em Paris, à associação dos jornalistas de França-Rússia-CEI o seu livro sobre o antigo secretário do Conselho de segurança russo. Explicou que o financiamento das redes islâmicas na Chechênia devia notadamente servir para promover a chegada ao poder de Vladimir Putin. Este último, supostamente, garantiria a manutenção do ambiente de impunidade do governo Yeltsin, também envolvido “na pilhagem” da Rússia.De acordo com o Sr. Klebnikov, o oligarca russo, que vive hoje na França, financiava as redes islâmicas “por motivações da política interna russa e sem razões de cunho ideológico”.Neste espírito, a reativação do conflito na Chechênia devia servir de degrau para a ascensão à presidência russa de Vladimir Putin, antigo coronel do KGB, tido como suficientemente fiel aos negócios demasiado imorais e ambíguos dos oligarcas e do regime do presidente Yeltsin.Assim, Boris Berezovski, um dos homens chave “da pilhagem da Rússia no tempo da administração do presidente Yeltsin”, foi um dos principais artífices da chegada do presidente Putin ao poder com a cumplicidade de grupos islâmicos.Paradoxalmente, Putin, uma vez no poder, acabou com o papel “desmedido de Berezovski, o poderoso chefão do Kremlin, que combinava negócios, criminalidade e política”, de acordo com o Klebnikov, que considera, apesar disso, “positiva” a presidência de Putin em matéria de luta contra a corrupção, restabelecimento da integridade do Estado e “normalização” do capitalismo russo em geral.O oligarca desempenhava o papel “de banqueiro informal na Chechênia dos grupos wahabbites (islamitas usados pelos EUA durante a Guerra Fria para combater a URSS, notadamente no Afeganistão), como os membros da rede de Osama Bin Laden”, acrescenta Klebnikov.O financiamento de forças islâmicas chechenas por Berezovski passava notadamente por Movladi Odougov, antigo Vice-Primeiro Ministro autônomo checheno, e sobretudo por seu irmão. Estes se apóiam militarmente na organização islâmica fundamentalista Khattab, de origem árabe jordaniana, formada por Bin Laden no Afeganistão e instalada na Chechênia durante a primeira guerra separatista em 1994-96, de acordo com o autor do livro.Estes representantes da ala mais radical dos muçulmanos chechenos unidos à milícia de Chamil Bassaev, ex-primeiro ministro da Chechênia, atacaram a república vizinha do Daguestão em Agosto de 1999 fato que, juntamente com os atentados contra edifícios na Rússia, teriam sido pretexto da segunda guerra da Chechênia.Na seqüência deste ataque, que foi oficialmente desaprovado, Aslan Maskhadov, o presidente autônomo checheno, destituiu Movladi Ogouvdov.“Existem registros de entrevistas sobre financiamentos entre Berezovski e Ogoudov, foram publicados em Moscou em 1999 pelo Moskovskij Komsomolets. Nunca foram desmentidos por Berezovski que, pelo contrário, justifica a sua condição invocando um papel diplomático muito complicado” assegura Klebnikov que detém cópias destes registros e cuja revista está sendo processada há cinco anos por Berezovski.O jornalista explica que Berezovski desempenhava com facilidade o papel de agente financeiro secreto dos ativistas islâmicos chechenos após ter despontado como novo multimilionário, à custa da pilhagem da fábrica de automóveis Autovaz (Lada) com a proteção das gangues chechenas no início dos anos 90.O livro explica em detalhes este processo e é, conseqüentemente, uma peça importante para todos os que querem compreender a transição da Rússia para o capitalismo.
Dimitri de Kochko
O Poderoso Chefão do Kremlin - Boris Berezovski e a pilhagem da Rússia - por Paul Klebnikov - Robert Laffont, 456 p. 21,20 EUR 139,06 FF.

(*) O jornalista Paul Klebnikov, 1963-2004, era editor da revista Forbes russa e foi morto a tiros em 09/07/2004 na cidade de Moscou (http://www.forbes.com/2004/07/12/cz_sf_0712steveforbes.html).