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Noticiário - Antonio Roque Citadini

Wednesday, August 01, 2007

O novo oligarca favorito do Kremlin

O russo Oleg Deripaska se torna a maior fortuna da Rússia graças à sua lealdade incondicional ao presidente Putin

Pilar Bonet
Em Moscou

Roman Abramovitch, o dono do clube de futebol Chelsea, já não é o homem mais rico da Rússia e está sendo desbancado como oligarca favorito do Kremlin. A nova estrela é Oleg Deripaska, o rei do alumínio, de 39 anos, que além de ser o maior produtor mundial desse metal (graças ao controle da empresa UC Rusal), exibe uma atividade exuberante em campos que vão da construção à indústria automobilística, passando por energia, transporte aéreo, indústria florestal e seguros. Por suas manifestações de fidelidade ao Kremlin, o magnata é considerado hoje um protótipo do multimilionário que goza do beneplácito das autoridades russas.

Para o semanário russo "Finance", Deripaska já é a primeira fortuna da Rússia (15,5 bilhões de euros; cerca de R$ 40 bilhões) e tudo indica que a revista "Forbes" o reavaliará quando realizar sua nova lista dos multimilionários russos, em substituição à atual, em que ele ocupa o segundo lugar (12,3 bilhões de euros; cerca de R$ 31 bilhões), abaixo de Abramovitch (14,2 bilhões de euros; cerca de R$ 36,5 bilhões).

A experiência do grande empresário russo durante a presidência de Vladimir Putin mostra que estar de bem com o Kremlin significa ter oportunidades de negócios seletas, mas também assumir tarefas e encargos em nome de um Estado cujos representantes máximos realizam uma seleção política ao apoiar alguns empresários e marginalizar outros.
Atualmente, Deripaska se dispõe a comprar a companhia petrolífera Russneft, a sétima da Rússia (com lucros anuais próximos dos 7,3 bilhões de euros) por uma quantia que varia, segundo diversas fontes, entre 2,2 bilhões e 4,4 bilhões de euros. A compra poderia ser vista como um negócio a mais, se não fosse pela mensagem de despedida que Mikhail Gutseriev, o fundador e proprietário da Russneft, dirigiu a seus empregados. Nela, acusou as autoridades de obrigá-lo a desligar-se da companhia que fundou em 2002 praticamente do nada e que hoje produz cerca de 17 milhões de toneladas de petróleo por ano.

O empresário afirmou que tentaram convencê-lo a vender "por bem", e quando isso não deu resultado recorreram a um "ataque em todas as frentes", a saber, inspeções fiscais, investigações policiais e processos penais. Em resumo, os mesmos métodos que obrigaram outras companhias do setor energético a dividir seus negócios com consórcios estatais e que levaram à prisão e à ruína Mikhail Khodorkovski, o ex-presidente da Yukos.

Formalmente, o comprador da Russneft não é o Estado, mas é como se fosse, a julgar pela disposição de Deripaska a sacrificar seu negócio no altar da pátria. "Se o Estado me diz que devemos entregá-la, a entregaremos. Eu não me afasto do Estado. Não tenho outros interesses", afirmou ao jornal "Financial Times". E acrescentou que se sentia como alguém "com sorte", a quem a riqueza teria "caído do céu".

Os analistas russos discordam dos motivos que levaram o oligarca a exibir tamanha generosidade. No que parecem concordar é que esse homem, que foi sócio de Abramovitch, não tem nada a temer do Kremlin, diferentemente de outros magnatas com idéias próprias sobre política. Deripaska foi o grande vencedor das encarniçadas guerras pela privatização do setor de alumínio disputadas na década de 1990. A UC Rusal (Alumínio Russo), criada em março passado como produto de uma fusão de gigantes, prepara-se para entrar na Bolsa neste outono, uma operação na qual Deripaska espera obter 6,6 bilhões de euros.

O magnata, que foi criado na região de Krasnodar, no sul da Rússia, pertence à "família" do primeiro presidente da Rússia, Boris Ieltsin. É casado com Polina, filha do primeiro casamento do jornalista Valentin Yumashev, ex-chefe da administração presidencial e atual marido de Tania, a filha de Ieltsin. O grupo empresarial de Deripaska, Basic Element (Basel), dá trabalho a 240 mil pessoas e teve um movimento comercial de 13,16 bilhões de euros em 2006. Entre seus muitos negócios está a Aeroportos do Sul, na qual se integram quatro aeroportos privatizados pelos quais passaram um total de 3,5 milhões de passageiros em 2006 e que inclui o aeroporto de Sochi, a principal localidade turística da Rússia e futura sede dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014.

A Basel comprou participações em construtoras européias, como 30% da austríaca Strabag e 10% da alemã Hochtief, e tudo indica que pretende jogar forte nos grandes projetos para o desenvolvimento da região meridional da Rússia e de Sochi. O magnata, que controla a fábrica de automóveis GAZ, no Volga, se interessa, segundo a imprensa alemã, por possíveis investimentos na Jaguar e na Land Rover. Como Abramovitch, também têm residência em Londres, uma mansão num bairro de luxo que custou 25 milhões de libras em 2004.

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(UOL Mídia Global, El País, http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2007/08/01/ult581u2193.jhtm, 01/08/2007)