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Noticiário - Antonio Roque Citadini

Saturday, May 19, 2007

Litvinenko assinou a sua morte no dia 17 de Novembro de 1998

Quem matou o ex-agente do KGB Alexander Litvinenko? Quem poderia estar interessado no seu silêncio? E quem é que deu a ordem para que ele fosse assassinado?

A tentativa de encontrar as respostas a estas perguntas levaram Martin Sixsmith, um antigo correspondente da BBC em Moscovo, a investigar o que aconteceu antes e depois do fatídico dia 1 de Novembro do ano passado, data em que o ex-agente do KGB foi envenenado com polónio-210, uma substância altamente radioactiva.

O resultado dessa investigação foi agora publicado no Reino Unido pela editora Macmillan: The Litvinenko File - The true story of a death foretold. (O Ficheiro Litvinenko - A verdadeira história de uma morte anunciada) Neste livro, Sixsmith aborda muitas das premissas de que partiu a Scot-land Yard, que terá chegado a um beco sem saída. Em parte, devido à legislação russa que impede Moscovo de extraditar os seus cidadãos.

Um argumento que poderá ajudar a perceber as razões que levaram a coroa britânica a não ter deduzido qualquer acusação, quase seis meses depois de Litvinenko ter sucumbido aos efeitos do Polônio-210, numa ala isolada de um hospital londrino. Mas as conclusões a que Sixsmith chegou não deverão ser muito diferentes das deduções da Scotland Yard, cujo trabalho é muitas vezes citado em The Litvinenko File.

Para Martin Sixsmith o momento-chave para se perceber o assassínio de Litvinenko reside numa conferência de imprensa que o ex-tenente-coronel do KGB (já designado por FSB) deu na capital russa, a 17 de Novembro de 1998.

Nesse dia, Litvinenko assinou a sua sentença de morte ao denunciar em público uma conspiração do FSB para assassinar o multimilionário Boris Berezovski, sustentando ainda que a actuação dos serviços de segurança russos estava minada pela corrupção. Mas o que, nessa altura, poucos terão percebido é que por trás das denúncias de Litvinenko estava, segundo Sixsmith, uma manobra para condicionar Vladimir Putin, recém-nomeado para dirigir o FSB.

O facto é que esta conferência de imprensa viria a assumir uma grande importância muitos anos depois. Quanto mais não seja pela identidade das pessoas que ladeavam Litvinenko, algumas das quais estavam encapuzadas. Martin Sixsmith identifica-as agora: Viktor Shebalin (que à data era tenente-coronel do FSB); Andrei Ponkin (major); Alexander Gusak (coronel); Mikhail Trepashkin (tenente-coronel).

De uma forma ou de outra, os três primeiros voltaram a trabalhar para o FSB e apareceram em público há uns meses para denunciarem Alexander Litvinenko como "traidor", insinuando que ele tinha sido morto devido às suas actividades no submundo do contrabando, do tráfico e da chantagem.

Já Trepashkin, que deixou o FSB, transformando-se num advogado, está preso nos Urais, tendo sido impedido de falar com a Scotland Yard.

E, no entanto, foi Trepashkin que, por mais de uma vez, avisou Litvinenko de que a sua cabeça estava a prémio e que havia elementos do FSB - no activo ou já reformados - que pretendiam eliminá-lo.

Por várias razões. Primeiro, porque Litvinenko tinha quebrado os códigos de honra (e de silêncio) de organizações como o FSB. Depois, porque sabia demais, nomeadamente sobre a Chechénia e a criação de esquadrões da morte. E, finalmente, porque teria denunciado ao MI5 vários agentes da Rússia no Reino Unido.

Como se isso não bastasse, Litvinenko dedicava-se, ainda, a recolher informações sobre eventuais parceiros de negócios na Rússia, tendo sido responsável por ter feito abortar projectos de muitos milhões.

Razões que levam Sixsmith a concluir que os responsáveis pela morte de Litvinenko "devem ser encontrados" dentro dos serviços de segurança russos ("FSB, militares do GRU ou serviços secretos do SVR"), que têm acesso a substâncias como o Polônio-210, dispõem de tempo para planear operações e não precisam de autorização para as executar.

A partir daqui, só faltava encontrar quem transportasse o Polônio-210. De preferência, alguém que conhecesse Berezovski, permitindo, assim, que fosse enviado um "recado" ao oligarca. E, desse ponto de vista, quem melhor do que uma pessoa que já tivesse trabalhado para ele?


(Diário de Notícias, http://dn.sapo.pt/2007/05/19/dngente/litvinenko_assinou_a_morte_dia_de_no.html, 19/05/2007)