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Noticiário - Antonio Roque Citadini

Friday, June 01, 2007

Espião russo acusa Londres de assassinato

Serviço secreto britânico MI-6 teria envenenado Litvinenko em 2006

AP E REUTERS

Andrei Lugovoi, o principal suspeito da morte do ex-agente da KBG (hoje, FSB) Alexander Litvinenko em Londres, no ano passado, acusou ontem o serviço secreto britânico MI-6 de estar por trás do envenenamento. Em declarações surpreendentes, durante uma entrevista coletiva, Lugovoi, também ex-agente da KGB, afirmou ainda que tanto Litvinenko quanto o magnata russo Boris Berezovski tinham sido recrutados pelo MI-6.

O depoimento complica ainda mais o caso e deve intensificar as tensões entre Moscou e Londres. Na semana passada, a promotoria britânica acusou Lugovoi de ter envenenado Litvinenko com a substância radioativa polônio-210 e pediu à Rússia sua extradição. Moscou, no entanto, afirmou que as leis do país não permitem a extradição de cidadãos russos. Promotores da Rússia, no entanto, chegaram a sugerir que poderiam fazer uma troca entre Lugovoi e Berezovski, crítico feroz do presidente russo, Vladimir Putin. A Inglaterra descartou a possibilidade.

Nas primeiras declarações desde que foi acusado, Lugovoi apresentou três teorias para a morte de Litvinenko. A primeira: o MI-6 perdeu o controle sobre Litvinenko e teve de assassiná-lo. Outra possibilidade seria a de que Litvinenko teria obtido provas de que Berezovski apresentou documentos falsos para conseguir asilo político na Inglaterra. Segundo Lugovoi, o ex-agente assassinado lhe disse num encontro em 2006 que pretendia chantagear o magnata russo - que teria encomendado a morte de Litvinenko. A terceira possibilidade envolveria um mafioso da Geórgia. O ex-espião estaria ajudando a Espanha a obter informações sobre Zakhar Kalashov, extraditado de Dubai para Madri em 2006.

Para Lugovoi, as três possibilidades envolvem o MI-6. 'A participação do serviço secreto britânico é certa. O envenenamento de Litvinenko não poderia ter sido feito sem o MI-6', disse. Lugovoi disse ainda que a inteligência britânica tentou recrutá-lo para obter informações sobre Putin. Ele disse ter como provar as acusações, mas não deu mais detalhes. Reafirmando sua inocência, Lugovoi queixou-se do tratamento que tem recebido dos jornais britânicos. 'Eles me tratam como um James Bond russo que envenenou um amigo (Litvinenko), a si próprio e sua família', afirmou.

A chancelaria britânica limitou-se ontem a declarar que a acusação contra Lugovoi é um caso criminal e não de espionagem. Londres não confirma nem nega informações sobre possíveis agentes do governo. Berezovski também manifestou-se, rejeitando as acusações de Lugovoi. 'Ficou mais claro do que nunca que o Kremlin está por trás do assassinato de Litvinenko. A coletiva de Lugovoi mostrou que ele está agindo sob instruções do governo', disse em Londres. Tanto Lugovoi quanto Litvinenko trabalharam para o magnata.

Litvinenko, asilado na Inglaterra desde 2000, morreu em 23 de novembro do ano passado, após agonizar por três semanas. Numa carta escrita no hospital, ele acusou Putin pelo seu assassinato. Segundo investigações da Scotland Yard, Litvinenko foi envenenado no dia 1º daquele mês, durante encontro com Lugovoi e o empresário russo Dmitri Kovtun, que também estava na coletiva de ontem. Após a morte de Litvinenko, a polícia encontrou traços de polônio-210 nos locais visitados por Lugovoi em Londres.
(O Estado de S. Paulo, Internacional, 01/06/2007)